quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Um conto genérico.

Ela vagueia pelo quarto, seminua, em semicírculos que se completam, mas nunca formam um inteiro, pois, ao contrário das rodas (gigantes, ou não) o trajeto principia e finda de uma forma bem definida. Algo tem que ser definido nesses dias escritos por um roteirista com péssimo senso de humor dado a joguetes de gosto duvidoso, nem que seja o desenho no chão desses pés de passo torto e tortuosos caminhos. Na garganta um gole seco e amargo de uma bebida qualquer com teor alcoólico mais alto que o recomendável, com pouco gelo e já com um pouco de sal das lágrimas que teimam em rolar vez em quando. E tudo o que ela quer é não querer mais ele, e ela sente tudo ao mesmo tempo agora, inventa um novo amor de fumaça e pó e se apaixona por um homem sem formas nem gosto, só para esquecê-lo. Ela se derrama em letras de caligrafia quase inelegível, ela se desnuda para apreciação pública, ela se coloca inteira em sonetos de rimas vazias, ela quer ser lida, deleitada, degustada. Ela quer saber que gosto ela tem, ela quer saber o que ele sente na boca depois do beijo, em que andar ele esqueceu toda a história como um malote qualquer de conteúdo indesejável, ela só quer respostas para tentar desenhar, com lápis de olho em guardanapo de bar, um futuro qualquer, porque no passado ela cismou de querer enquanto houvesse querer, e desquerer quando o querer não fosse mais querido, e ele desquiz, deu um beijo na testa, virou pro lado e dormiu, e ela que achou que tivesse entrando num caso qualquer, desses sem contas a pagar, sem cobrador na porta com beijos com gosto de beijos, noites com gosto de sexo e carinho no fim (porque se não, não tem graça) se viu andando em semicírculos pensando no grande amor da sua vida e em uma escada que sobe para baixo.

4 comentários:

Mariana Stolze disse...

Era uma vez um tesouro. Guardado. Lá no fundo de alguém.

Era uma vez uma chave. Totalmente incompatível. E que machucava ao tentar. Feroz.

Era uma vez outras chaves. Sorrateiras, enganosas, doces, suaves, ligeiras, malandras, rudes, graciosas, estranhas, distantes, apavoradas, espertas. Chaves sem rumo. Certeiras. Incertas.

Era uma vez um tesouro. Antigo. Guardado no fundo de alguém.

Era uma vez a chave do tesouro.
Perdida. Perdida sem saber que só pode ser encontrada por quem enxergar o tesouro.

A chave mora exatamente junto ao tesouro.

A chave e o tesouro são coisa só.




Só um coração desavisado não é capaz de ver.

Mariana Stolze disse...

Quando te leio... sinto que... te leio. E por isso tudo é tão mais vivo. E por isso dá tanto gosto devorar e deliciar.

Você deve ter nascido palavra.

LuCais disse...

A escada que desce pra baixo é como correr pertinho do chão, bem devagar?
É o momento em que você está bebendo sentado e levanta, e até o delírio vira ao contrário. Você tem uma trsiteza súbita, lembra da vida, de tudo.
É difícil de aceitar, de ver acontecer. Me pergunto.

Faço paisagens com o que sinto. disse...

"Quando eu estiver
Triste
Simplesmente
Me abrace.

Quando eu estiver
Louco
Subitamente
Se afaste.

Quando eu estiver
Fogo
Suavemente
Se encaixe

Quando eu estiver
Bobo
Sutilmente
Disfarce"