sábado, 31 de janeiro de 2009

Misturando histórias


Ainda com remela, nos olhos e na alma, tateio o colchão a procura dele depois de mais uma noite quase em claro - reconhecendo os velhos truques, vendo passo a passo ele me dominar, me colocando em Matte, sempre facilitando o Check no fim das contas ( é com isso que ele goza, e goza tanto o espírito que o corpo dispensa o gozo) - percebo que o lugar dele, ainda quente na cama, está vazio e eu, ainda de olhos fechados, deitada na mesma cama, estou (também) vazia. O meu vazio se encontra com o vazio deixado por ele, eles se reconhecem e se cumprimentam. A sensação daqueles braços me envolvendo, cessou. Sentimento presente conjugado em tempo passado: pensou, sussurrou, tocou, beijou, abraçou, amou. E quando tudo parecia eterno, quando o destino parecia traçado e as certezas brotavam naturais como os sorrisos, as malas, jamais desfeitas, cruzaram a soleira da porta e o sonho acabou.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Noticiário de meia noite

Caiu uma pedra, nem muito grande, nem muito pequena, meio pontiaguda mas ligeiramente arredondada, foi um baque seco que espirrou muita água.
Caiu uma pedra e vários círculos concêntricos se formaram, e reverberou do centro pra todo lago, do lago pra toda água, da água pra toda terra, da terra pra todo universo, do universo pra tudo o que há (ou não há) em volta dele.
Caiu uma pedra e o mundo nunca mais foi o mesmo, porque nunca uma mesma pedra cai duas vezes num mesmo lago, é sempre uma nova pedra e um novo lago, pois tudo o que existe não é agora o que foi no segundo anterior, nem no segundo seguinte o que foi agora.
Caiu uma pedra em direção ao centro da terra. O centro da terra é tudo o que os corpos buscam, o espírito quer se elevar mas para a matéria tudo o que há é o centro da terra, e é só por isso que ficamos no meio do caminho, lugar muito agradável para se estar, lugar onde existe pedra, existe água e círculos concêntricos.
Caiu uma pedra de cima, de onde vem Deus, tudo o que vem de cima atinge, fere e pode matar.
Caiu uma pedra e não matou.
Caiu uma pedra e tudo o que se pensa cai como uma pedra que reverbera.
Caiu uma pedra e isso é sublime.
Caiu uma pedra.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Direto do Cais

Bala de festim na agulha de vitrola, moinho de gente virando gente em moinho, movida a energia eólica, girante, giratória, gigante, purgatória, pulsante e latente. Só leva seu lápis em punho se for pra escrever uma história de amor, anda ávida de amor, ávida de história, ávida de viver... num tal de tempo que passa rangendo, roendo as entranhas, matando aos pouquinhos, num tal de vento que anda ralentado, que não move nem catavento quanto mais essa moça-moinho ancorada num instante inútil, e tudo o que não move enferruja, apodrece, morre. A lápide é datada de hoje, e de ontem, e de amanhã, é datada de eternamente, pois ela estará eternamente viva para continuar desexistindo e desistindo a cada dia.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Um conto genérico.

Ela vagueia pelo quarto, seminua, em semicírculos que se completam, mas nunca formam um inteiro, pois, ao contrário das rodas (gigantes, ou não) o trajeto principia e finda de uma forma bem definida. Algo tem que ser definido nesses dias escritos por um roteirista com péssimo senso de humor dado a joguetes de gosto duvidoso, nem que seja o desenho no chão desses pés de passo torto e tortuosos caminhos. Na garganta um gole seco e amargo de uma bebida qualquer com teor alcoólico mais alto que o recomendável, com pouco gelo e já com um pouco de sal das lágrimas que teimam em rolar vez em quando. E tudo o que ela quer é não querer mais ele, e ela sente tudo ao mesmo tempo agora, inventa um novo amor de fumaça e pó e se apaixona por um homem sem formas nem gosto, só para esquecê-lo. Ela se derrama em letras de caligrafia quase inelegível, ela se desnuda para apreciação pública, ela se coloca inteira em sonetos de rimas vazias, ela quer ser lida, deleitada, degustada. Ela quer saber que gosto ela tem, ela quer saber o que ele sente na boca depois do beijo, em que andar ele esqueceu toda a história como um malote qualquer de conteúdo indesejável, ela só quer respostas para tentar desenhar, com lápis de olho em guardanapo de bar, um futuro qualquer, porque no passado ela cismou de querer enquanto houvesse querer, e desquerer quando o querer não fosse mais querido, e ele desquiz, deu um beijo na testa, virou pro lado e dormiu, e ela que achou que tivesse entrando num caso qualquer, desses sem contas a pagar, sem cobrador na porta com beijos com gosto de beijos, noites com gosto de sexo e carinho no fim (porque se não, não tem graça) se viu andando em semicírculos pensando no grande amor da sua vida e em uma escada que sobe para baixo.

Excesso de pontos.

Bocas salgadas de sal que escorre dos olhos. Costas lanhadas de unhas já roídas, já condoídas, já destruídas pela maresia, pela tempestuosa moça que tudo destrói. Maldição da garganta seca e da dose da tequila que desce tão rápido que só deixa areia por onde passou. Marcas roxas do amor que não foi feito. O cheiro que já não está mais no lençol. As lembranças de tudo que não foi vivido. E os sonhos turvos que tatuam na alma os momentos amargos que suamos. E tudo que somos, que fomos, que rolamos, que ofegamos. E as flores que ela oferece. E o sorriso que ela arranca. E a confusão de palavras com todo o aquilo que isso devia ter sido mas não se tornou.

Ela vem como um carnaval

Um coração na vitrine. Exposto, deposto do posto de mestre da minha bateria. Aqui ele não manda mais. Quem ele pensa que é pra ziriguidunzear assim em cima da minha caveira? Nessa poça de sangue e lágrimas ninguém samba mais! E tenho dito!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Páginas amareladas

Por falta de costume, ou talvez pelo esquecimento de como é, realmente, sentir o coração acelerado, encaro a velha novidade com uma infindavel angustia e me arrependo de cada momento que senti falta desse sentimento. Como uma descrente afirmo que essa ressaca sem alcool é bobagem, e que não entendo como os seres se inebriam dessa forma. E afirmo isso totalmente inebriada...


09/09/07

"será que o amor não tem programa ou ama com paixão?"

Esse texto não seria esse. Esse texto era sobre uma noite mal dormida, sobre uma mulher que rola na cama, sobre sonhos eróticos. Mas aí vem ele e me tira do eixo... me faz esquecer os sonhos próximos... me leva para um sonho antigo, um sonho amarelado... Ele faz isso por um prazer quase infantil, ele sabe que me desestabiliza, ele sabe que ainda é ele, que ainda é por ele, que ainda me sufoca, que ainda me faz tremer... E ele flutua, passeia leve, os pés mal tocam o chão, ele é uma criança, ele se diverte, ele ri, inconsequentemente e inconsequente mente só para dar corda, só para não se extinguir...Para ele basta saber que eu estou aqui, sempre que ele precisar.


" Que tanta cerimônia
Se a dona já não tem
Vergonha do seu coração "

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

AMOR HIPERBÓLICO

Nem por todo o amor do mundo ele me empresta um pouco de carinho, e eu, que me contento com tudo, queria ao menos dividir, com ele, a eternidade.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

cri cri cri

Ligeiramente seca.
Desinspirada.
Desesperinspirada.
O ano velho já gastou, mas o novo não deu nem sinal de vida.
Ponto. Final? Posso terminar com uma exclamação? Acho que estimula mais o ano que não nasceu a nascer e ser supimpa.
EXCLAMAÇÃO...